ESG: muito mais dúvidas do que certezas

O famoso Kellogg Institute da não menos famosa Northwestern University divulgou recentemente estudos realizados sobre ESG no mercado americano, algumas daquelas pesquisas com numerosas entrevistas, junto a empresários de vários setores, abordando diferentes aspectos desse assunto que ocupa tanto espaço na mídia de negócios em todo o mundo. (“De que adianta uma empresa fazer o bem”)

As dúvidas (muitas) e as certezas (poucas) que se percebem pela leitura desse interessante material não são diferentes das dúvidas e certezas que são ouvidas no Brasil.

Numa das conclusões, e aí chega a haver uma certa dose de ironia, é insinuado que as práticas do ESG, no mínimo, não fazem mal: “… os resultados mostram que o mercado não está vendo o ESG como uma técnica que destrói valor”.

O eventual leitor já deve ter ouvido alguma coisa semelhante dita aqui em Pindorama.

De uma forma geral, haveria sempre busca por materialidade, alguma razão objetiva, concreta, claramente perceptível pela preferência.  Nunca preferência por determinada marca, simplesmente porque ela faz o bem.

Nesse particular chega a ser lembrado uma espécie de estigma dos chamados produtos verdes, que em condições normais são vistos como de desempenho inferior e custam mais caro.

Não há certeza, também -apenas uma certa percepção- de que haja aumento de produtividade ou sólido engajamento dos funcionários de empresas que rezam pela cartilha do ESG.

Há um aspecto, e esse sim positivo, mas por uma razão cheia de objetividade, segundo o qual as empresas que são vistas como adeptas das políticas ESG, chegam a ter preferência em negociações em bolsas não porque sejam sustentáveis, mas pela convicção por parte do investidor de que essas empresas terão mais facilidade de se ajustar a eventuais imposições de Lei que venham a ser determinadas no futuro.

E o boicote por parte do público a produtos não sustentáveis? São muito poucos os que têm sucesso e para isso só chegam realmente a causar preocupação quando a campanha de boicote é engajada pela mídia e fortemente divulgada.

Em outras palavras: parece que se vai continuar a falar muito de ESG. Há indicações claras de que é uma direção irreversível tanto num mercado como o dos Estados Unidos como no brasileiro e todos os outros.

Mas há muito chão pela frente.

Ou, como foi dito outro dia pelo principal executivo de uma grande empresa brasileira, zelar pelo meio ambiente, preocupar-se com o social e adotar normas de governança são coisas que nem deveriam estar sendo assunto neste primeiro quarto do século 21. Já deveriam estar solidamente arraigadas no jeito de ser de todas as empresas e praticadas com a maior naturalidade do mundo.

Seja como for, há perguntas que ficam no ar.

A adoção dos preceitos ESG faz mal à saúde corporativa de uma empresa?

Tudo indica que não.

A adoção desses preceitos contribui para a boa reputação da empresa?

Sem dúvida.

Reputação, entretanto, é resultado de um largo conjunto de atributos que uma empresa incorpora à sua personalidade ao longo do tempo.

E que lhe confere uma série de benefícios de toda ordem, preferência contínua pela marca, diferenciação num momento de crise ou em negociações financeiras, benefício da dúvida, e por ai vai.

Não basta, entretanto, ser uma “empresa que faz o bem”.

Reputação vai além.

Reputação num estudo que não é assinado por uma consultoria verde-amarelo

Reputação de Empresas

E eu pensei que fosse coisa exclusiva deste país do jeitinho!

Num estudo recente da Harvard Business Review sobre reputação, há estas duas constatações que comprovam que o fenômeno não é verde/amarelo:

1.     O empresário conhece muito bem o quanto a boa reputação de sua empresa e suas marcas é importante e valiosa.

2.     Como não enxerga ameaças a olho nu, tende a relegar o assunto a um nível de prioridade bem remoto.

Ou seja, esse comportamento aparentemente absurdo é mais comum do que suspeitava, o que significa que faz todo sentido recomendar ao empresário brasileiro a leitura do estudo assinado por Robert G. Eccles, Scott C. Newquist e Ronald Schartz.  

Título: Reputação e seus riscos

Sub título: Identificar, quantificar e gerenciar os riscos à reputação de sua empresa muito antes que um problema aconteça.

Principais tópicos abordados:

Ativos intangíveis, tanto quanto o valor da marca em si e o “goodwill” representam algo como 70 a 80% do valor de mercado de uma companhia.

Ou seja: reputação é assunto crítico.

·       Certifique-se da real reputação de sua empresa junto aos públicos decisivos. Nem sempre é aquela que você imagina.

·       Avalie o desempenho de sua companhia nas várias áreas, não apenas as mais óbvias.

·       Cubra eventuais lacunas através do aprimoramento de categorias ou setores vulneráveis.

·       Monitore as alterações de expectativas dos vários públicos. Certos pontos antes aceitáveis podem ter deixado de sê-lo.

·       Tenha uma pessoa responsável pelo gerenciamento de riscos à reputação

Aplique esse processo e não apenas ampliará seu valor de mercado como atrairá clientes e funcionários leais, como melhorará o custo médio de seus produtos e se beneficiará de menores custos de capital.

Pense em reputação.

Atendimento e acolhimento

E bons negócios!

Pasta dental, trator, sapato, empilhadeira, pimenta do reino.

Produtos de consumo, bens industriais, serviços – hotéis, hospitais, a lista é imensa.

Não há empresa, seja no mercado que for, não há marca que possa prescindir de boa reputação.

Não se trata de ser marca ou empresa conhecida, que anuncia muito, ter (ou dizer que tem, na maior parte das vezes é isso mesmo: dizer que tem) políticas rígidas de sustentabilidade.

Boa reputação é resultado de um conjunto de fatores, tangíveis ou intangíveis, muitos, até, relegados ao esquecimento.

O conceito de “bom atendimento” é muito mais do que a gravação (irritante) na espera do atendimento telefônico – “não desligue, sua mensagem é muito importante para nós”…

Ligue para você mesmo e veja se é fácil ser atendido. Ou pelo menos cordialmente informado de que você não pode atender. Ligue!

Há empresas em que até o telefone direto da secretária da diretoria é atendido permanentemente por uma estridente e antipática secretária eletrônica.

Os resultados práticos de boa reputação mostram-se de forma eloquente de muitas maneiras.

O custo de capital de giro é muito mais baixo para empresas bem reputadas.

Produtos com boa reputação são muito melhor expostos no ponto de venda e muito mais fácil e espontaneamente oferecidos por vendedores.

Num eventual momento de crise (infelizmente crises podem acontecer a qualquer um), empresas que zelam por sua reputação conseguem com muito mais facilidade o benefício da dúvida.

Reputação é coisa séria e sem “achômetros”, começa com um sólido trabalho de pesquisa para encontrar fragilidades.

Ou, melhor do que isso, encontrar, às vezes, oportunidades que não estão sendo utilizadas.

Experiência anterior vale muito. Mas não é tudo.

Texto 18 DiferençasClaro que experiência anterior num determinado mercado é muito importante para qualquer profissional de marketing que esteja em vias de assumir uma nova posição ou iniciar um trabalho de consultoria em outra empresa do mesmo segmento.

Mas não é tudo.

Não há duas empresas iguais, por mais que sejam concorrentes diretas.

A Unilever e a Procter são dois universos completamente diferentes um do outro.

E isso se repete em praticamente todos os mercados.

Veja-se o caso dos defensivos agrícolas. Há empresas que por mais que vendam praticamente os mesmos produtos, têm enormes diferenças entre si, ditadas, às vezes, pelas próprias características das culturas em que preferencialmente atuam. Vender um herbicida ou um fungicida para culturas de trigo é uma coisa. Os mesmos produtos, vendidos para agricultores de citros é outra.

Às vezes as diferenças vêm de características geográficas. O mercado de soja dos estados do sul e do centro-oeste do Brasil são brutalmente diferentes um do outro e as estratégias ou táticas das empresas que atuam num lugar e noutro são, por isso, muito diferentes.

Há empresas, nesse setor, que têm como foco de marketing o sólido e vasto trabalho de assistência técnica. Tive oportunidade de trabalhar, por exemplo, com a DuPont e ver como os técnicos da empresa visitavam seus clientes, sentindo-se, e sendo percebidos, como de casa. Assisti a cenas que foram marcantes para mim no mercado de cana: o caso, por exemplo, de um agricultor que baseava suas decisões técnicas – onde plantar, quando plantar, como atacar uma infestação de parte da cultura– na opinião do técnico da DuPont. Era uma equipe de técnicos-vendedores muito mais técnicos do que vendedoresSoluções diferentes.

Meses depois, prestando serviço para empresa concorrente, ficou claro que o foco dessa outra empresa era a sólida rede de revendas e a facilidade proporcionada aos clientes de rapidamente repor estoques.

Fenômenos como esse acontecem em cada mercado.

Não há duas empresas de seguro saúde idênticas no seu modo de atacar o mercado e fazer vendas. Assim como não há dois bancos, duas redes varejistas, dois laboratórios de produtos farmacêuticos, dois fabricantes de móveis idênticos.

Pode haver (e há) semelhanças muito grandes entre uma e outra empresas do mesmo setor, mas o profissional de marketing que vai iniciar seu trabalho em uma nova empresa, por mais familiarizado que esteja com o mercado, tem que passar por um bom período de aprendizagem. Tem que gastar sola de sapato, tem que encostar a barriga em diferentes balcões, tem muito o que conversar com distribuidores, clientes, prospects, formadores de opinião, antes de começar a atuar com um mínimo de segurança e juntar a experiência anterior (sem dúvida válida, importante) com essa coleta de informações capaz de familiarizá-lo com os usos e costumes, com as peculiaridades, com as características únicas da nova empresa.